Na Montanha

Não existem coisas boas a se celebrar

Não existem tantas coisas ruins a se lamentar

Não existem.

A vida não precisa de sentido para existir

A vida não precisa de sentido para ruir

A vida não precisa.

Quem são os pés que não vêem onde pisam?

Quem são os olhos que não se enxergam?

Quem são?

Mas que vontade de rir para conter o choro

Mas que vontade de chorar, de cair na gargalhada

Mas que vontade.

Por que a gente fala tanto assim?

Estou tentando pescar o sentimento mudo

com palavras-iscas, mas ele não morde, não quer falar.

Não quer tocar no assunto.

Mas eu insisto.

Ah, isso lá é verdade. Eu insisto para que ele venha.

A dimensão que os olhos alcançam é tão impalpável.

Cabe aqui dentro, lá, aquele horizonte, dentro deste globo ocular

A paisagem da montanha entre pelas minhas narinas,

Enche o peito e deságua nos braços culminando os dedos, nas pontas, querendo tocá-la.

Dissipar-se neste abismo seria tão bom!

Como cinzas que voam para todo o lado.

Vem sentimento. Venha mágoa de viver.

Vem felicidade. Vem amor da minha vida.

Morde o anzol minha querida. Eu estou aqui.

Não sei quem é você, mas nada é mais real que sua ostensiva,

desconfortável presença: dúvida.

Então é assim que te chamas. Que engraçadinha!

Mas tenho dúvida se queres que assim o seja.

Mas que dúvida! Que vida dupla!

Bom, mas tem quem goste.

Eu te odeio. Dúvidas?

Não gostei de que tenhas mordido o anzol.

Não gostei nada que me trouxe.

Na verdade estou cansado de ti.

Todo mundo está.

Cada vez que lanço uma pergunta no mar

já vi que é tu e quem agarras, junto com a resposta,

a isca.

Então desaparece. Me deixe apenas contemplando,

tranquilamente,

Esta beleza infinita que são as montanhas.

Será que ainda estás aí?

Fora! Fora! Fora!


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