Na Montanha
- 25 de janeiro de 2019
Não existem coisas boas a se celebrar
Não existem tantas coisas ruins a se lamentar
Não existem.
A vida não precisa de sentido para existir
A vida não precisa de sentido para ruir
A vida não precisa.
Quem são os pés que não vêem onde pisam?
Quem são os olhos que não se enxergam?
Quem são?
Mas que vontade de rir para conter o choro
Mas que vontade de chorar, de cair na gargalhada
Mas que vontade.
Por que a gente fala tanto assim?
Estou tentando pescar o sentimento mudo
com palavras-iscas, mas ele não morde, não quer falar.
Não quer tocar no assunto.
Mas eu insisto.
Ah, isso lá é verdade. Eu insisto para que ele venha.
A dimensão que os olhos alcançam é tão impalpável.
Cabe aqui dentro, lá, aquele horizonte, dentro deste globo ocular
A paisagem da montanha entre pelas minhas narinas,
Enche o peito e deságua nos braços culminando os dedos, nas pontas, querendo tocá-la.
Dissipar-se neste abismo seria tão bom!
Como cinzas que voam para todo o lado.
Vem sentimento. Venha mágoa de viver.
Vem felicidade. Vem amor da minha vida.
Morde o anzol minha querida. Eu estou aqui.
Não sei quem é você, mas nada é mais real que sua ostensiva,
desconfortável presença: dúvida.
Então é assim que te chamas. Que engraçadinha!
Mas tenho dúvida se queres que assim o seja.
Mas que dúvida! Que vida dupla!
Bom, mas tem quem goste.
Eu te odeio. Dúvidas?
Não gostei de que tenhas mordido o anzol.
Não gostei nada que me trouxe.
Na verdade estou cansado de ti.
Todo mundo está.
Cada vez que lanço uma pergunta no mar
já vi que é tu e quem agarras, junto com a resposta,
a isca.
Então desaparece. Me deixe apenas contemplando,
tranquilamente,
Esta beleza infinita que são as montanhas.
Será que ainda estás aí?
Fora! Fora! Fora!
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